Sempre
fui do tipo que agradece demais. Deve ter sido criação. Minha mãe frisava muito
a importância das palavras mágicas, principalmente do obrigado. Cresci com
isso. Hoje, já grande, ainda me pego pecando pelo excesso de obrigados. Sabe,
às vezes estou distraída, alguém fala alguma coisa aleatória, e lá vou eu,
desembestada soltando um: obrigada! Às vezes a pessoa só está me pedindo um
favor e eu me mantenho inerte, após soltar minha palavrinha mágica. Não é maldade,
é distração e força do hábito.
Imagem: William Araújo |
Acho
que parte da culpa também pode ser atribuída à Rosana, minha professora de
português da terceira série. Um dos flashes que me lembro com mais precisão das
aulas de ensino fundamental era a Rosana ensinando que obrigado variava de
acordo com o gênero. Achei aquilo um máximo. Comecei a distribuir “obrigada”,
com um sonoro A no final, para todos. Sempre fui meio bocó pomposa, queria que
as pessoas soubessem que eu sabia falar certo. O episódio foi o mesmo quando a
Rosana ensinou que deveríamos pedir trezentos gramas de presunto na padaria, e
não trezentas. Aí foi uma festa, todo dia eu queria sair para comprar trezentos
gramas de fatiados, pegar o embrulho, e soltar um magnífico obrigada. E olha
que eu nem gosto de presunto.
Ah,
Rosana... Você poderia ter sido minha professora favorita por toda uma vida.
Mas não, na quarta série, quando eu venci o seu concurso de leitura e produção
de textos, que perdurou por todo o ano, e nunca recebi meu prêmio, você perdeu
o seu posto. Aquele momento doeu. Porra, Rosana, eu me empenhei o ano inteiro.
E aposto que agora, aqueles que estudaram comigo nem se lembram disso, nem se
lembram que fui a vencedora; quiçá se lembram que o concurso existiu. Mas se eu
tivesse ganhado meu prêmio, e não um parabéns sem graça – que qualquer pessoa
fala certo, que não varia com o gênero-, eles lembrariam, porque criança é
competitiva, guarda as coisas. E eu guardo isso desde 1999. Muito não obrigada.
Bonitinha!
ResponderExcluirTks!
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