terça-feira, 26 de maio de 2015

Cheiro

Cheiro. Particular. Íntimo. Cheiro não é apenas perfume. Cheiro é pele, suor, fragrâncias e sentimentos. Tem gente que tem cheiro de felicidade. Que estranho seria se pudéssemos trocar de cheiros; certamente eu faria um escambo, o meu cheiro de fascínio pelo cheiro de felicidade daquele homem da noite anterior.

Certa manhã, -parafraseando Kafka na cara de pau mesmo- acordei de sonhos intranquilos. Uma intranquilidade fruto de um sono leve, embalado pelo cheiro alheio que exalava de mim. Meu sonho não me pertencia, na medida em que, nele, eu não me habitava inteiramente. O homem que deixara seu cheiro em mim, na noite anterior, me adentrava em sonho de forma peculiar e quase literal. Cada poro meu respirava e engolia, para si, seu cheiro e seus pedaços. Por cada poro ele injetava em mim as mais puras partículas de felicidade, como se felicidade fosse uma fórmula superconcentrada que pudesse ser comprada na farmácia da esquina. A felicidade se mostrava simples.

O sonho, esplêndido em sua intranquilidade, deu lugar a instantes de uma calma matinal enquanto eu me mantinha estirada, sozinha, em minha cama. Ah, aquele cheiro que não consigo descrever! Era um resquício da noite anterior, uma ponte para boas memórias de todas as outras noites que passamos juntos. Minha pele, momentaneamente, exalava não a mim, mas a ele.

Poucos instantes se passaram e a intranquilidade logo voltara, ao passo que, possessiva, eu aspirava por um olfato superdesenvolvido; aspirava sentir aquele cheiro, agora leve, de forma intensa e mais duradoura; eu lutava contra a minha normalidade olfativa e contra o tempo, quando um segundo durava exatamente um segundo, e, dentro de, no máximo poucas horas, roubariam de mim aquele aroma daquele homem. O tempo não pararia e eu lutava, em vão, para ser eterna possuidora daquele cheiro que não era meu.

Falhei. Não havia contra o que lutar, era uma batalha perdida. Mantive-me quieta, imóvel em posição fetal. Aproveitei, derrotada, cada segundo até que a minha pele voltasse a carregar, por inteira, o meu próprio aroma.

Chegou ao fim. Inconformada eu exalava apenas a mim mesma.

Com a partida do cheiro da felicidade, me restou apenas eternizá-lo em minhas palavras e esperar por aquele momento em que minha pele sagaz poderá roubá-lo novamente. 

Confesso, já próxima ao fim das linhas, que aquele não foi um devaneio fruto de um cheiro de uma noite só; foi obra, mesmo que piegas, do amor construído. Aquele cheiro não surgiu o como o protótipo da felicidade, ao contrário, mesmo que naturalmente, ele foi moldado até se transformar, de fato, na minha felicidade.

Quanto aos momentos de inquietude, esses se repetem a cada encontro e desencontro. Enquanto houver felicidade, sonhos intraquilos  e apego ao cheiro do outro, haverá, para nós, muito amor.

Aquele cheiro se fez felicidade. O cheiro e o tempo. O homem no tempo e o cheiro no homem. A gente se fez felicidade. A gente no tempo e o homem em mim. 

Ainda sim grito alto: Cheiro, és ingrato enquanto passageiro; És um malandro com suas reiteradas idas e vindas!

Agora, já sem o cheiro do meu homem, bebo uma dose de cachaça e fumo o meu cigarro; o álcool e a nicotina me presenteiam agora com o nosso gosto, que mistura o sabor do fascínio com o da felicidade.

Que comece a busca por todos os sentidos da felicidade!

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Muito não obrigada

Sempre fui do tipo que agradece demais. Deve ter sido criação. Minha mãe frisava muito a importância das palavras mágicas, principalmente do obrigado. Cresci com isso. Hoje, já grande, ainda me pego pecando pelo excesso de obrigados. Sabe, às vezes estou distraída, alguém fala alguma coisa aleatória, e lá vou eu, desembestada soltando um: obrigada! Às vezes a pessoa só está me pedindo um favor e eu me mantenho inerte, após soltar minha palavrinha mágica. Não é maldade, é distração e força do hábito.
Imagem: William Araújo

Acho que parte da culpa também pode ser atribuída à Rosana, minha professora de português da terceira série. Um dos flashes que me lembro com mais precisão das aulas de ensino fundamental era a Rosana ensinando que obrigado variava de acordo com o gênero. Achei aquilo um máximo. Comecei a distribuir “obrigada”, com um sonoro A no final, para todos. Sempre fui meio bocó pomposa, queria que as pessoas soubessem que eu sabia falar certo. O episódio foi o mesmo quando a Rosana ensinou que deveríamos pedir trezentos gramas de presunto na padaria, e não trezentas. Aí foi uma festa, todo dia eu queria sair para comprar trezentos gramas de fatiados, pegar o embrulho, e soltar um magnífico obrigada. E olha que eu nem gosto de presunto.


Ah, Rosana... Você poderia ter sido minha professora favorita por toda uma vida. Mas não, na quarta série, quando eu venci o seu concurso de leitura e produção de textos, que perdurou por todo o ano, e nunca recebi meu prêmio, você perdeu o seu posto. Aquele momento doeu. Porra, Rosana, eu me empenhei o ano inteiro. E aposto que agora, aqueles que estudaram comigo nem se lembram disso, nem se lembram que fui a vencedora; quiçá se lembram que o concurso existiu. Mas se eu tivesse ganhado meu prêmio, e não um parabéns sem graça – que qualquer pessoa fala certo, que não varia com o gênero-, eles lembrariam, porque criança é competitiva, guarda as coisas. E eu guardo isso desde 1999. Muito não obrigada.

terça-feira, 5 de maio de 2015

Desse tamanho aqui, ó!


Estava do lado de cá do passeio. O homem, do lado de lá. Era hora do café da tarde, do break no trabalho. Estava prestes a atravessar a rua quando o sujeito se antecipou e veio em minha direção. Com uma mão ele segurava um vaso de planta montado artesanalmente; com a outra, levava à boca o que, há instantes, havia sido um cigarro. Naquele momento era apenas filtro queimado.

– Moça, compra minha arte? Dirigiu a palavra a mim, enquanto esticava o braço, mostrando a planta.

– Hoje eu não tenho nada. É fim de mês e sou estagiária.

– Eu faço pra você por R$ 5. Olha, fiz tudo à mão. Peguei essa garrafa que fica aqui em baixo do suporte na rua, porque detesto gente que polui o ambiente. Já catei meu reciclável do dia. Já fiz a minha parte. Faça a sua, dê uma forcinha aí. Insistiu como quem tenta vender um carro de luxo, esperando aquela comissão.

– Ô moço, não tenho nada mesmo. Vai ficar pra próxima.

– Sem problemas, então. Mas você me dá um minuto da sua atenção?

– Claro, diga!

– Semana passada, ganhei R$50 com a planta. Mas foi com outra. Eu ‘tava’ na minha casa e meu primo apareceu com um amigo dele lá. Assim, de surpresa. E não é que o caboclo viu meu pé de maconha e me ofereceu 50 pratas nele? Era desse tamanho aqui ó – o homem gesticulou apontando para a altura dos seus joelhos. Vendi na hora!

Após desabafar sobre o feito, com um misto no olhar de realização e saudade, ele se despediu apenas pelo gesticular de sua mão esquerda.

– Cuidado com a planta que vai vender por aí! Aconselhei e observei o homem caminhar noutra direção. Ainda com o toco de cigarro nos lábios.


terça-feira, 28 de abril de 2015

Cara ou Coroa

Acordei e não sinto nada. Na verdade sinto. Sinto que um caminhão passou sobre o meu corpo, que virou a noite perdido em tristeza e reflexão. Fora isso, nadinha. Depois de todo esse tempo com ele, já não sinto paixão, tesão, raiva, desapontamento ou ânimo. Quiçá consigo sentir o amor que até ontem estava aqui. O único dos sentimentos que tinha me restado. Será que me transformei, de novo, na pedra que eu era? Ou será que fui transformada?

Ele temia o meu desencanto repentino. Como eu sempre fiz com aqueles que vieram antes. Ora bolas, não posso ser a culpada por todos os finais dos meus relacionamentos. Definitivamente não. Não sou do tipo que pede demais, mas planos sozinhos, quando arquitetados para dois, estão fadados ao fracasso. É perigoso. E o mais triste: nesse caso, eu assinei o projeto arquitetônico.

Aí fica a pergunta: cadê o amor que tava aqui? Ele saiu pra tomar uma xícara de café e volta? Ou ele saiu pra comprar cigarros e nunca mais será visto? Não sei. Peguei uma moeda e comecei a falar e ponderar sozinha.

_ Se der cara, é só um café. Se der coroa, são os cigarros.

Joguei. Coroa. Decidi tentar no melhor de três para o resultado ser mais confiável. Você sabe, é mais preciso tirar duas ou três caras, do que apenas uma. O vento pode ter influenciado na primeira. Joguei de novo. Cara. Eu sabia! Ainda sem sentir nada, segurei a moeda, tasquei-lhe um beijo e fiz o terceiro lance. C-O-R-O-A.

Ora, quanta estupidez a minha pensar que uma porcaria de uma moeda vai revelar se um duende chapadão resolveu esconder meus sentimentos num potinho depois do arco íris, ou se ele resolveu colocar fogo para acender seu baseado de trevo de quatro folhas. Deixa disso, pensei.

Para descobrir se o amor ainda está lá, preciso tentar sentir outra coisa, que me prove, de fato, minha indagação. Já sei, preciso tentar sentir culpa! Se a culpa vier, batata, o amor ainda está em algum lugar. Se a culpa não vier, ele já não existe.

Tomei um banho demorado. Deixei que a água que caía sobre mim refrescasse minhas ideias. Aquilo era insano, mas era preciso.

_ Porra! Esqueci a toalha!

Pisei no tapete felpudo do banheiro e me remexi feito um cachorro, na esperança que me secar. Não deu certo. É obvio que não deu. Saí correndo na esperança de não molhar o caminho até o quarto. Também não deu certo. É claro.

Me vesti. Nada demais. Apenas um vestido xadrez. Nada de salto ou maquiagem. Apenas o vestido e algumas gotas de Light Blue. Aquele dia, eu queria carregar um cheiro de sobriedade, não o típico cheiro de sedução que o J’adore proporciona. Naquele dia eu ia sair em busca da minha sobriedade emocional. Se eu achasse a culpa, o amor ainda persistiria, em algum lugar.

Peguei minhas chaves, tranquei o apartamento. Desci para a garagem. Antes de ligar o carro, coloquei para tocar aquela música na voz da Maria Rita, que fala que o trem que chega é o mesmo trem da partida. Achei propício. Tirei o carro e cantei como se não houvesse amanhã. E cantei uma, duas, três, quinze vezes. 

Onde vai estar a culpa? Dentro das calças de um homem, concluí. Naquele dia, eu precisava beber e foder. E acordar de porre e suja com a porra de outro. Se ainda sim eu não sentisse nada, era mesmo o fim do amor.

sábado, 25 de abril de 2015

Disfarce!


Estava deitada sobre um sofá cama de couro marrom; o sofá que, certamente, já conhecia cada curva minha. Senti um respirar vindo do corpo colado ao meu. Era o homem que dormia ao meu lado. Ele e seu respirar pesado e desajeitado. Um respirar penoso sob todos aqueles cachos que lhe caíam no rosto. Quieta, apenas com os olhos atentos e o corpo inerte, eu o observei.

Observei seus jeitos e trejeitos mais íntimos, aqueles involuntários que o sono trata de entregar. Meu toque clamou pelo seu corpo. Com cuidado afaguei a parte de trás de seus cabelos, revelando-se uma das poucas pintas que carregava no corpo, uma singela e discreta marca na nuca. Sorri e deixei que os cabelos caíssem novamente sobre sua pele.

Sem querer acordá-lo me mantive apenas deitada ao seu lado, inerte de corpo, mas efervescente em pensamentos de admiração que saltavam para fora de mim em forma de sorriso. Carregava comigo um desejo de perenidade, um desejo de que tudo permanecesse perfeito como até então tinha sido construído. Naquela noite, me peguei com um medo descomunal de perda; fruto de uma teia de assombrações e ligações entre falas e memórias do que já havia ficado pra trás. Um medo meramente pautado em suposições.

Sem ter muito o que fazer, pensativa com meus medos, anseios e angústias, foquei o olhar na porta negra que dava de frente para o sofá. Estava entreaberta. Num momento de delírio vi uma luz azul passar pela fresta aberta. Ela veio, aos poucos, adentrando a sala até se concentrar em forma circular na lateral do sofá cama no qual eu me encontrava. A luz, que começou azul, ganhou um tom intensamente claro. Me ofuscou os olhos e, ao conseguir abri-los novamente, uma imagem tinha ganhado corpo ali. Em pé. Ao meu lado. Eu, que não entendi nada fiquei apática.

Era uma figura de homem, parecia um santo, com sandálias de Jesus e vestes como aquelas que cobrem as imagens nas igrejas; uma espécie de alta costura do clero camuflada num modelo simplista e atemporal. Mas o meu santo carregava consigo um cigarro e puxou para si a cadeira que ficava próxima ao sofá. Assentou-se, cruzou as pernas e, reclamando do cansaço que as sandálias lhe causaram, tragou seu cigarro.

_Pois então... começou a falar enquanto baforava a fumaça. _ Não precisa se assustar, tô aqui pra te ajudar! Tava passando por essas bandas e senti cheiro de angústia misturada com amor. Sim, os sentimentos tem cheiros e, puta que pariu, amor misturado com angústia fede pra caralho. Sim, santos também falam palavrões, mas o cigarro é segredo! Mas deixe-me apresentar, sou o santo que protege aqueles que fazem uso de calmantes, ansiolíticos e os psicóticos no geral. Alguns me chamam de Santo do Prozac, mas pode me chamar como quiser.

Continuei apática, sem chamá-lo de absolutamente nada. Apenas ouvia o que o barbudo hippongo teletransportado pela luz azul tinha pra dizer.
_ Fique com o amor e abandone a angústia. É sério, joga fora essa porra toda de teorizar sobre o que ficou pra trás, de questionar demais, acredite na pele ao seu lado. A pele não mente! Deixe de ser mulherzinha e jamais se esqueça do cigarro pós coito! Não vou me alongar, afinal de contas, não sou o santo da auto ajuda.

O cigarro do Sr. Prozac já havia acabado. Ele se levantou, sentou ao meu lado e me lascou um beijo ainda com gosto de tabaco e me soltou uma última frase: “A gente pode brincar, mas você tem que disfarçar!”. Ao abrir os olhos ele havia desaparecido. Tentei entender aquela cena bizarra. Não deu.

Novamente deitei na quietude e, num surto de sensatez, percebi que eu estava, na verdade, acordada dentro do meu próprio sonho. Lutei para acordar. Uma. Duas. Três vezes. Na quarta tentativa consegui ser bruscamente expelida para o real. De fato eu havia acordado. Com os olhos realmente abertos encarei novamente aquele corpo. Aquele respirar. Aqueles cachos. Aquela personificação do que seria um sonho realmente bom.

Sorri um sorriso involuntário. Sorri ao sentir o amor jorrando pelos meus poros. E, novamente me aconcheguei junto àquele corpo. Agora aqueles cachos também caíam sobre mim. E, ali, eu quis ficar por toda a eternidade, sob o acalento da pele quente e sob as leves cócegas que os fios causavam nas minhas costas nuas.

No fundo, o santo era eu. O acalento para as minhas angústias disfarçadas sob a alta costura do clero. Quanta heresia! Que disfarce mais insólito!

Disfarce. Será essa a nova ordem?! Ordem?! E lá existe ordem no meu caos? Pensei.

Não preciso de disfarces. Concluí.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

E eu exorcizo meus demônios escrevendo. Lanço-os em cartas que nunca serão enviadas, em textos que nunca serão terminados e em livros que nunca vão chegar ao fim. E ali eles ficam aprisionados, no tempo e por algum tempo.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Saudade boa é a que bate do lado de lá e volta pro lado de cá.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Concentra
Inspira
ação!

sexta-feira, 28 de junho de 2013

O quão bom é saber mergulhar na entrega quando ela é diretamente proporcional ao querer! Se entregar sozinho é perigoso, é raso. Bom mesmo é se entregar nas profundezas onde a companhia é certa e o medo não é capaz de chegar. Assim largo pra trás medos, concepções e tabus obsoletos e apenas me entrego.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Entrega

É quando me entrego
Que trago o melhor em mim
Até chegar a hora
Aquela inevitável
Hora do estrago
Aí apenas trago o meu cigarro
E espero a próxima entrega

quarta-feira, 5 de junho de 2013

O esquecimento devolve o brilho a uma mente sem lembranças, mas é no borrão da memória que a história se reconstrói, é na opacidade borrada que os velhos erros aprendem a dar espaço a outros. Erros. Sabores. Amores. INÉDITOS.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Tenho preguiça de gente sem sal, desses que não servem nem para nos dar nos nervos. Gosto dos temperados, explosivos e à flor da pele. Gosto dos que transpiram sensações, dos transparentes, dos quentes e verdadeiros. Gosto dos que são em si a mais bela aceitação.

domingo, 28 de abril de 2013

Coloquei o cigarro com a piteira suja de batom vermelho no cinzeiro que estava sobre a mesinha ao lado do sofá. A fumaça subia de forma linear até certa altura, onde, num charme singular estava fadada a perder sua linearidade; aquele deformar sempre me atraiu mais que o traço perfeito e sem graça.[...]Deixei meu copo cair. Gelo, whisky, vidro e chão. Me rendi.[pela pele]

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Pela Pele

Procura-se um amor, desses de uma noite só - ou até mesmo de uma vida inteira -, que rabisque em minha pele seus devaneios. Devaneios em tinta preta escorrendo, nascendo e morrendo pela pele.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Gosto mesmo é dos que tem a coragem de soltar as amarras com o passado. De gritar a liberdade em face do que ficou pra trás. Gosto dos que riem na cara da estupidez ora existente. Gosto daqueles que sugam as lições do vivido e apagam o resto. Porque é como aquele velho clichê: "se passado fosse bom, era presente!" "Gavetas" são para os inseguros, e os inseguros, esses não me atraem.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O simples é mais fácil. O que não pensa é mais fácil. O quieto é mais fácil... O submisso então, nem se fala, esse é ridiculamente fácil! Relacionamentos assim são simplesmente práticos. Entretanto, o simples é raso. O simples não me atrai e o raso não me cobre inteira. No que tange à esfera dos relacionamentos, gosto mesmo das profundezas do que é complicado. Gosto dos que me instigam. Gosto dos que me desafiam sem me subestimar. Gosto da troca, não apenas do dar ou do receber. Se relacionar é isso, é ser desafiado a crescer em meio à troca constante.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

O diferente atrai, mas é raro de convencer e prevalecer. No fundo do real e universal (nas mais diferentes escalas, é claro) egocentrismo, nos encontramos na eterna busca pelo bom e velho semelhante. Ah, as peripécias do ego!

domingo, 27 de janeiro de 2013

O dia em que eu tiver que limitar minhas palavras ou filtrar meus pensamentos em razão de algum homem, estarei condenada à masturbação eterna.

sábado, 8 de setembro de 2012

O Norte Sentimental


O destino da bússola é apontar para o norte. E o destino do coração, também seria apontar para alguma espécie de ponto?

Um dia eu soube que tinha uma bússola cravada no peito, que sempre apontava para o meu norte. Meu norte em forma de homem, o que me fazia sempre procurar por resquícios dele em todos os homens leste-oeste-sul.

É inevitável, nortes existem. Nortes marcam. Nortes nos atraem. Nortes nos puxam com uma força imensurável.

Então, o que seria esse tal norte sentimental?!

Bom, muitos passam por nossas vidas e, igualmente nessa linha, nós também passamos por inúmeras delas. Nem a mais egocêntrica das pessoas um dial almejou ser o protagonista de todas as vidas por onde passou. Somos fadados a protagonizar apenas as nossas vidas; a termos participações importantes em pouquíssimas; a sermos vilões em algumas; e a sermos elenco de apoio de muitas.

Nesse jogo de idas e vindas de vidas, sempre vai ter um par-norte pra você, o grande protagonista. Esse será o par que vai te marcar mais, que vai ser de fato o seu norte, que te fará comparar todos os próximos pares mais coadjuvantes com ele.

Por um momento pensei ser antiético comparar uns ao outro. Pensei ser uma puta sacanagem confrontar carinhos, palavras, paus, desenvolturas sexuais, o sabor do suor, o gosto do sexo, o tesão das palavras ditas e ouvidas... Mas não é. A comparação se pauta na nossa racionalidade. Comparamos por sermos racionais e por racionalizamos os sentimentos na medida do possível.

Ter um norte nos fada à comparação e ao menosprezo saudável de todas as direções que não são ela. Não vejo essa tal de antiética uma vez que, comparamos, mas, também somos comparados. Para alguns poucos seremos um dia o norte, mas para a maioria, faremos o papel do leste, do sul, do oeste. É a dança da bússola sentimental.

Um dia, meu homem norte, por teimosia, resolveu burlar sua bússola, rodeando-a com ímãs, ora puxando-a para o leste, ora para o sul, mas nunca deixando-a aproximar de mim, o seu também norte. Foi então que me perguntei: seria possível transformar outras direções em norte?

A racionalidade sentimental vai até certo ponto. Não acredito na possibilidade de transformar um leste num norte tomando-se consciência disso. Acredito nas transformações espontâneas. Transformar, nessa esfera, com consciência é cruel, é temporário. Redescobrir é saudável. Não burle seu norte, sofra com ele, sofra até redescobri-lo num outro alguém.

Por fim, quanta ironia a bússola apontar para o norte assim como o falo...

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Querido desconhecido...

Escrevo a você, que um dia vai ser o grande amor da minha vida, assim como todos os outros que passaram por minha história em algum momento o foram... Sei que vamos nos encontrar e olhares vão se cruzar, palavras soltas serão as armas da sedução, ficaremos atados nesta rede de palavras e sentimentos arrebatadores. E a curiosidade por aquele que mal conhecemos vai nos rondar, atordoando mais ainda nossas cabeças e corações.

Beijos serão trocados, carícias compartilhadas. Nossos corpos se entrelaçarão. Músicas, filmes, telas, versos e fotografias vão fazer uma espécie de elo, ligando nossos momentos mais intensos, os quais lembraremos com um grande sorriso estampado no rosto.

A convivência vai se instaurar. Adoraremos as manias estranhas um do outro. Saberemos a posição exata que o outro se agarra ao travesseiro para dormir. Na primeira vez que formos dormir juntos, não dormiremos... ambos irão fingir, fechando os olhos e, apenas prestando a atenção na respiração daquele corpo estirado na cama, como se aquele som baixinho fosse a mais bela sinfonia já ouvida.

Por fim, vai chegar um momento em que suas manias vão me irritar, que o som da sua voz vai soar como notas musicais sem sentido e mal organizadas. Vai chegar um momento em que tudo o que me encantava em você vai desmoronar e, num piscar de olhos, você vai deixar de ser o amor da minha vida, assim como todos os outros, em algum ponto o deixaram de ser. Ou, pode até ser que toda esta agonia sentimental venha a partir inicialmente de você, vai saber...

Então um de nós colocará um ponto final nesta história com um belo início. Será nesse momento que vou perceber, mais uma vez, que não existem amores para toda a vida, existem amores para os momentos e, novamente começarei minha busca pelo próximo desconhecido, aquele que seja, na verdade, o amor para todos os meus momentos.

Querido desconhecido, nos vemos em algum lugar no futuro, quando você me mostrará a veracidade ou não desta minha teoria.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

As pessoas seriam mais felizes se parassem de fingir relacionamentos e orgasmos... 

terça-feira, 3 de julho de 2012

Gritando no meu silêncio e criando caos a partir da ordem, assim vou afastando meus maiores fantasmas, aqueles da mesmice e da monotonia.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Lábios Vermelhos, Alma em Chama

O batom vermelho que contorna a boca
A boca vermelha ao redor do cigarro
O cigarro manchado amontoado de nicotina
A nicotina movendo o cérebro
O cérebro inventando coisas
As coisas borrando pensamentos
Os pensamentos refletindo a alma
A alma sendo a essência do ser
O ser: corpo a olho nu
Corpo a olho nu rodeado de tendências
O vermelho é a tendência da estação
A tendência que dá cor aos corpos
Maquiagens que camuflam o ser enquanto corpo
O corpo,
os olhos, a nuca, a boca, o TODO
O batom vermelho que (mais uma vez) contorna a boca.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Dizem que o amor é cego...

Não nos cansamos de ouvir o bom e velho ditado “o amor é cego”. Ok! Uns concordam, outros não, eu me abstenho de opinar... Mas seria o amor apenas cego, como difunde tanto esse jargão? Eu atribuiria ao amor outra característica, pra mim, o amor seria um destruidor vocálico. Sim, isso mesmo que você leu!
Por que as pessoas, na maioria das vezes, quando estão amando loucamente tratam seus parceiros com aquelas vozes irritantes?! É chato ouvir “meu amorzinho”, “meu xodozinho”, “meu neném” e etc. com aquele tom de voz de criança que casais apaixonados amam usar.
Dica do dia: essas vozes infantis nasalizadas acompanhadas de termos melosos não combinam, não conquistam e muito menos causam tesão em nenhum cidadão que esteja em sã consciência, que tenha discernimento mental completo!
Se é para os casais continuarem com essa diarréia vocálica, preferiria eu que o amor fosse mudo a cego!